Realmente, é o absurdo dos absurdos! O Palmeiras chiou, pediu a realização de novo jogo,
reclamou da arbitragem contra a anulação de um gol de mão, intencional,
claríssimo, no jogo desta semana contra o Inter (RS).
Com o
perdão dos trocadilhos, o pirata Barcos meteu um gancho de direita para tentar evitar
que sua esquadra afundasse ainda mais. Uma porcaria... Num primeiro momento o juizão caiu na
dele, mas alguém do lado de fora dedurou a trambicagem...
A
discussão sobre o que levou o árbitro a voltar atrás até procede, mas o clube –
e de resto a imprensa esportiva – deveria ter um mínimo de bom senso e mudar o foco
da discussão. O sr. Milton Neves, por exemplo, fez apenas mais uma de suas famosas (e de gosto mais que duvidoso) piadas...
Temos
mesmo que repensar nossos valores...
Há pouco
mais de dois anos, durante a Copa do Mundo da África do Sul, logo após Brasil 3 x 1 Costa do Marfim, publiquei o texto abaixo em um outro blog
(sergiocamelo.blogspot.com). Leia os três últimos parágrafos, em negrito, e
imagine o porquê de eu ter resgatado esse post...
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Copa de Lata
O Egito é
a África branca, árabe, do norte, do bom futebol. Tricampeões da copa africana
de nações, os egípcios têm a melhor seleção, mas por um desastre – derrota num
jogo extra contra a Argélia – estão acompanhando a Copa do Mundo de longe, no
outro extremo do continente.
Mas alguns habitantes da própria África do Sul estão tão ou mais
distantes da grande festa do futebol. São os moradores da Blikkiesdorp –
“cidade de lata”, em africâner.
O autointitulado “governo de integração”, formado em grande parte
por aqueles que ajudaram a acabar com o apartheid racial, oficialmente extinto
na década de 90, implementou uma nova forma de apartheid, agora social, com um
único objetivo: esconder do mundo a pobreza de uma das sedes da copa.
A população “indesejável” de Cape Town (Cidade do Cabo) –
moradores de rua, imigrantes pobres, portadores do vírus HIV – foi confinada
num assentamento, localizado a vinte km da metrópole, formado por milhares de
barracos de zinco, que potencializam o frio no inverno e o calor no verão.
Estima-se que cerca de dez mil pessoas vivam no local atualmente, que é
totalmente cercado por arame farpado e cujo único acesso é rigidamente
controlado por policiais.
Talvez pela triste história dos excluídos sul-africanos, elegi o
Paraguai como minha zebra favorita. Explico. Há cerca de 150 anos, o país era
uma potência econômica na América do Sul, e foi sufocado por Brasil, Argentina
e Uruguai – se não bastasse, ainda apoiados pela Inglaterra – na Guerra do
Paraguai. De lá para cá, o país nunca mais conseguiu se reerguer. Dentre todos
os países da Copa, seu IDH só é superior ao dos africanos e ao de Honduras.
Injustiças nunca deixarão de ocorrer. No entanto, pelo menos, mantenhamos o inconformismo... e a isenção. Há pouco tempo, todos crucificamos o decadente Henry, que dominou a bola no braço duas vezes, antes de dar o passe para o gol que classificou a (mais decadente ainda) França para a Copa, na repescagem contra a Irlanda. Esta semana tivemos algo “fabulosamente” parecido, só que a nosso favor. Nenhuma manifestação de indignação.
2009, Auxerre x Olympique, pelo campeonato francês. O atacante
Koné, do Olympique, recebe cartão vermelho. Valter Birsa, meia do Auxerre, se
dirige ao árbitro e o convence a reverter a expulsão, por considerá-la injusta,
numa inédita demonstração de fair play.
Imaginem
se Luís Fabiano faz o mesmo, assume a irregularidade e pede ao Sr. Stephane
Lannoy que anule o seu tento. Talvez isso nem fizesse falta à trajetória do
Brasil. O Fabuloso escreveria para sempre o seu nome entre os grandes do
futebol mundial. E seria um golaço, hein?