Algumas
horas antes de San Jose x Corínthians, na Bolívia, pelo Grupo 5 da
Copa Libertadores, a delegação brasileira deixa Cochabamba com
destino a Oruro, local da partida, distante 210 km, mesmo percurso
realizado por Kevin Beltrán e sua família.
Torcedor fanático, o garoto não perderia por nada o embate do seu time contra o campeão do mundo.
O
San José não é exatamente uma potência , nem mesmo em se tratando
do decadente futebol boliviano, atualmente o mais fraco da América
do Sul.
Com
dois títulos nacionais em sua história, as grandes armas da equipe
são os 3.702 metros de altitude do estádio Jesús Bermúdez e o seu
torcedor número 1, o Presidente Evo Morales.
Seja
em um país paupérrimo, como a Bolívia, seja no Brasil (vide
Lula/Corínthians), seja na Itália (Milan/Berlusconi), o fato é que
ter um padrinho forte faz uma faz baita diferença...
Conta-se
no país andino que o Presidente da República prometeu doar US$ 500
mil ao San Jose. Ocorre que seu irmão Hugo perdeu as eleições para
comandar o clube, Evo magoou e até hoje ningué viu a cor do
dinheiro. Lá como cá, é assim que as coisas funcionam.
Bem,
voltando à história inicial: fim de jogo, empate em 1 a 1, gol
corintiano do peruano Guerrero – sempre ele – o herói da
conquista do titulo mundial contra o Chelsea.
Mas
o que menos importava era o resultado do jogo. Na comemoração do
gol, um torcedor brasileiro disparou das arquibancadas do acanhado
estádio local um sinalizador (desses que se usa em navios)
contra a torcida boliviana.
O
projétil cilíndrico de cerca de 20 cm percorreu 40 metros. O jovem
Jonathan Beltrán sentiu apenas uma rajada de vento arrancando seu
gorro. Ao olhar para o lado, já viu seu primo Kevin, de apenas
14 anos, estendido sobre a grade, fulminado com o artefato plástico
alojado em seu olho esquerdo. Causa do óbito: traumatismo craniano.
Doze
brasileiros foram presos pela polícia local, suspeitos da autoria do
crime. Passados alguns dias, as investigações apontavam para dois
possíveis autores, de 21 e 24 anos de idade.
Neste
domingo, uma reviravolta. A Gaviões da Fiel, torcida organizada de
histórico pouco abonador, identificou o autor do disparo fatal: um
funcionário da agremiação, de 17 anos. O adolescente vai confessar
e, por ser menor de idade, não poderá ser responsabilizado pelo
crime.
Muito
cômodo. E prático. Até porque, o curioso – e bota curioso nisso
– é que o adolescente que vai assumir tudo encontra-se no Brasil,
livre, leve e solto, e não faz parte do grupo original dos doze
suspeitos que permanecem retidos na Penitenciária boliviana de San
Pedro.
Estranho, mas não surpreendente. É bom lembrar que se o rapaz tivesse falado isso em território boliviano ele estaria bem enrascado, visto que lá a maioridade ocorre aos 16 anos. A Gaviões realmente pensou em tudo.
Desnecessário
lembrar que o lamentável episódio poderia ter ocorrido com a
torcida de qualquer clube brasileiro. Afinal, todos têm sua parcela
– felizmente uma minoria – de marginais.
Mas
bem que a diretoria poderia parar de falar bobagem, especialmente o
presidente Mário Gobbi, que, aliás, é advogado. Ele é contra
qualquer punição para o timão. Ou seja: jogar latinha em campo não
pode, o time perde o mando de campo. Apontar um morteiro contra a
torcida adversária é uma fatalidade, não merece punição.
A
questão é financeira. O Corínthians deve mandar todos os seus
jogos na competição com portões fechados,
o que significará um imenso prejuízo financeiro. Convenhamos, dado
o contexto, isso não tem a menor importância.
Domingo.
Os pais de Kevin chegam ao cemitério de Cochabamba para ver a pessoa
mais importante do mundo partir.
Solidarizemo-nos
com a sua dor.