Comemoração
do goleiro Kidiaba, do Mazembe – Imagem emblemática da derrocada brasileira
(Foto Hassan Ammar, AP)
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O título da matéria
corresponde a “o sonho acabou” em francês, a língua mais falada no Marrocos. O
idioma oficial do país é o árabe, mas الحلم هو أكثر ficaria meio estranho...
O Galo caiu na real. E, com
ele, todos os brasileiros, independentemente da paixão clubística. Infelizmente, o Atlético (MG) está muito mais pra Guangzhou e Raja Casablanca do que pra Bayern e Real Madrid, apesar do ufanismo da imprensa esportiva brasileira. Há algumas
décadas, o futebol europeu tem dominado completamente o mundial de clubes.
Nem sempre, claro, isso se
refletiu em resultado. Afinal, da década de 80 pra cá, houve vários títulos de
equipes sulamericanas, em sua maioria brasileiras. Assim é que São Paulo (1992,
1993 e 2005), Corínthians (2012 e 2000, este questionado, pois ocorreu em um
torneio paralelo ao tradicional mata-mata Europa x América do Sul, quando o Boca
venceu o Real Madri em Tóquio), Flamengo (1981), Grêmio (1983) e Internacional
(2006) repetiram o feito do Santos, campeão em 1962 e 1963.
Mas, de todos esses títulos,
apenas um foi conquistado de forma incontestável: o do Flamengo em 1981, que
massacrou o Liverpool por 3 a 0, gols de Nunes (2) e Adílio – por mais que os
anti-rubronegros não gostem.
De lá pra cá, foi só sufoco.
Aliás, desde 2005, quando foi oficializada a disputa com todos os campeões
continentais, as equipes sul-americanas não tiveram moleza nem mesmo nas
semifinais, penando para superar times inexpressivos no cenário mundial.
Em 2005, o São Paulo suou para
derrotar o Al-Ittihad (Arábia Saudita) por 3 a 2; no ano seguinte, o vexame
maior: o Mazembe, equipe da inexpressiva República Democrática do Congo,
derrotou o Internacional por 2 a 0, sendo facilmente batido pela Inter de Milão
por 3 a 0 na final; no ano passado, mais sufoco: Corínthians 1 a 0 no Al-Ahli
(Egito).
Este ano, o Raja Casablanca
foi o Mazembe do Atlético (MG). O campeão marroquino não era nem mesmo o representante
africano. O campeão do continente foi o egípcio Al-Ahli, de participação pífia
no mundial, perdendo para os chineses do Guangzhou por 2 a 0 e para os
mexicanos do Monterrey por 5 a 1.
O Raja era a equipe da casa,
o sétimo participante do torneio, um “puxadinho” instituído em 2007 pela Fifa para
minimizar o fracasso de público de anos anteriores. Seus torcedores tiveram que
viajar cerca de 250 km - distância entre Casablanca e Marrakesh – para torcer.
Os marroquinos venceram, nas
oitavas (que também poderiam ser chamadas de pré-mundial), o Auckland City, da
Nova Zelândia, por 2 a 1. Nas quartas, mesmo placar contra o Monterrey do
México, só que agora na prorrogação. O Galo foi, portanto, o adversário mais
tranquilo do Raja Casablanca, que venceu os mineiros por 3 a 1. Na final, massacre total do Bayern, o "Barcelona alemão", que assimilou à risca o estilo de Pep Guardiola. O placar de 2 a 0 não espelhou a imensa superioridade dos bávaros.
No Atlético, Cuca está de
saída, substituído por Paulo Autuori para 2014, que tentará reerguer a
equipe após um 2013 cheio de altos e baixos. Até a primeira fase da
Libertadores, o Galo atropelou. Depois, contou com muita sorte para avançar contra o
Tijuana (México), Newells Old Boys (Argentina), Olímpia (Paraguai) e conquistar a América.
No brasileirão, a
recuperação só veio no final, período que coincidiu com a contusão de R10. Talvez
nem seja tão coincidência assim. Apesar do talento inegável, com Ronaldinho Gaúcho
em campo, todos os lances da equipe passam obrigatoriamente pelo meia, que já
não tem o vigor de outros tempos, o que acaba tirando a velocidade na transição
da defesa para o ataque.
R10, aliás, foi o grande
derrotado do mundial: fez dois belos gols de falta, um em cada jogo, mas em
nenhum momento fez jus à fama. Na disputa do terceiro lugar contra os chineses
do Guangzhou (vitória do Galo por 3 a 2), Ronaldinho estava visivelmente
desequilibrado e foi expulso por agressão, enterrando de vez sua última
esperança de se mostrar aos olhos de Felipão e disputar a Copa de 2014.
R10 - última chance desperdiçada |