Fortaleza campeão brasileiro da série B! É o primeiro título nacional relevante do futebol cearense.
Um feito inédito, não só no estado, mas também no norte/nordeste,
desde que o campeonato passou a ser disputado no regime de pontos corridos.
Depois de um martírio de oito longos anos, em 2017 finalmente
o tricolor cearense conseguiu sair do inferno da série C. Em 2018, ano do centenário
do clube, o presidente Marcelo Paz resolveu ousar.
Numa grande sacada, o gestor tricolor abriu os cofres e foi
buscar um grande nome do futebol mundial: o ex-goleiro-artilheiro e ídolo são-paulino
Rogério Ceni.
Oficialmente, o Mito foi contratado como treinador, mas atuou,
na prática, como um manager, realizando
mudanças profundas na estrutura do clube, com carta branca da diretoria.
O trabalho de Ceni começou com a remontagem do elenco, pois aquele
que havia conseguido o acesso para a série B era reconhecidamente um dos mais
fracos dos últimos anos.
Não foi uma tarefa fácil. Algumas apostas iniciais do
treinador, como Alípio e Leo Natel, não se firmaram.
Nomes como o argentino
Germán Pacheco e a maior contratação do ano, Alan Mineiro, passaram pouco tempo
no clube. Ceni foi muito questionado em suas escolhas, e a perda do título do
campeonato cearense para o arqui-rival Ceará aumentou o coro dos que criticavam
seu trabalho e pediam sua saída.
Mas o estadual foi um bom laboratório. Com bons nomes como
Edinho, Osvaldo e o artilheiro Gustagol, o time já era bem melhor que o do ano
anterior, mas ainda insuficiente para a maratona da série B.
Prestigiado pela
diretoria, Ceni percebeu que o time precisava de mais um upgrade, arregaçou as mangas e voltou ao mercado em busca de
reforços para o brasileirão.
O técnico ligou para dezenas de jogadores. Muitos preferiram
outros clubes, como Ponte Preta e São Bento, pela maior proximidade com o
centro-sul do país, onde a visibilidade era maior. Alguns jogadores importantes
na vitoriosa campanha da série B chegaram já com o campeonato em andamento,
casos de Nenê Bonilha e Marcinho.
Ao apostar em nomes muito questionados pela torcida e pela
própria mídia, como Felipe e Marlon, Rogério mostrou talvez a sua maior
qualidade: a gestão de pessoas. Afinal, o comandante estava no dia-a-dia com os
atletas, e ninguém melhor do que ele, com sua experiência de mais de vinte anos
no mundo do futebol, para fazer as melhores escolhas e colocar o Fortaleza no rumo certo.
Apesar das dificuldades, o time mostrou um padrão
consistente e as vitórias começaram a surgir. O Leão embalou, ganhou confiança e
sempre esteve no G4 (só deixou de ser líder em 2 das 38 rodadas), apesar da
perda de alguns jogadores importantes, por contusões (que foram muitas) ou
negociados. Era o preço a pagar pelo sucesso do time.
O resultado superou todas as expectativas, apesar da
descrença inicial e das limitações financeiras: Goiás e Coritiba estavam em
outro patamar, com muito mais orçamento e estrutura. Pelo menos outras cinco equipes
tinham um elenco mais caro que o clube cearense. Ou seja, foi a vitória da competência!
Com quatro rodadas de antecedência, o Leão garantiu acesso à
elite do futebol nacional e, duas rodadas depois, conquistou o título, vencendo
a forte equipe do Avaí por 1 a 0 fora de casa. Nesse jogo, inclusive, Ceni
poupou vários jogadores, pendurados com cartões ou com problemas físicos, pois o
planejamento era garantir o título na partida seguinte, em casa, contra o
frágil Juventude. Mas, mais uma vez, o time se superou e teve um herói
improvável, Rodolfo, pouco utilizado na campanha vencedora, que marcou o gol da
vitória no final do jogo, quando o empate já garantia o título.
Com todo esse sucesso e exposição, o Fortaleza tem agora uma
oportunidade única de se consolidar no cenário nacional. Uma ótima notícia para
o futebol brasileiro, pois um clube que leva 50 mil torcedores ao estádio tem
mais é que estar entre os grandes.
Em 2019 virão mais desafios. Mas o clube parece estar no
caminho certo.
Vida longa ao Leão na série A!