terça-feira, 24 de julho de 2018

E agora, Neymar?



Saiu a relação dos dez indicados da Fifa para o melhor jogador do ano. A partir daí saem os três finalistas para a escolha final, que ocorre em setembro.

Nessa lista, figurinhas carimbadas como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, além de outras já esperadas, como o egípcio Mohamed Salah e o crota Luka Modric. Mas o que chamou a atenção, claro, foi a ausência de Neymar.

A surpresa é maior se considerarmos que, dos treze votantes, nada menos que três eram brasileiros: Parreira, Kaká e Ronaldo. Normalmente, nosso histórico bairrismo costuma aumentar um pouco a chance dos jogadores tupiniquins.

Em 1994, tivemos Romário eleito craque do ano, e a lista dos dez teve, além de Bebeto, os brucutus Dunga e Mauro Silva, em uma escolha um tanto quanto exagerada, apesar da reconhecida importância dos dois volantes na conquista do tetra.

Mas ano de copa é assim mesmo. O torneio tem sempre um peso significativo na escolha. Em 2018, dos dez, apenas três – os incontestáveis CR7, Messi e Salah – não chegaram às semifinais na Rússia.

De todo modo, quem acompanha o futebol com isenção há de reconhecer que, considerando todo o período – a eleição considera o desempenho dos atletas de julho/17 a julho/18 – o craque cai-cai teve desempenho bem superior a atletas como Harry Kane e Eden Hazard.

Nosso fracasso na Copa e a antipatia global angariada por Neymar – que atingiu seu ápice na Rússia – minaram quaisquer chances do brasileiro figurar pelo menos nessa primeira lista. Ficar entre os três já era mais difícil.

Neymar tem um talento indiscutível, mas infelizmente seu comportamento gera uma irresistível torcida contra. Seu pai, que administra sua carreira com mão de ferro, e seus “parças”, em nada contribuem para o objetivo do nosso craque de se tornar o melhor do mundo. Já famoso, inclusive, Neymar foi rebatizado de Neymar Júnior, em uma jogada de marketing de Neymar pai, com o único objetivo de promover a si próprio.  

O atacante do PSG sentiu o baque da derrota brasileira na copa, e possivelmente sentiu mais ainda sua ausência na relação dos melhores do mundo em 2018. Em seu retorno ao clube francês, seu status de super-astro estará ameaçado pelo ascendente craque Mbappé, que aos 19 anos já conquistou um título mundial e hoje é uma unanimidade, adicionando carisma e simpatia ao seu imenso talento.    

A excessiva vaidade, a provocação desnecessária a adversários, seus exageros e simulações, além de sua baixa resiliência ao encarar situações difíceis, evidenciam que nosso garoto-prodígio – que, aos 26 anos, já nem é tão garoto assim – ainda não amadureceu o suficiente a ponto de alçar voos mais altos na carreira.      

Uma pena.

Na ressaca pós-copa, sobrou até para o treinador, criticado por não colocar Neymar nos eixos. Uma injustiça. Como gestor, Tite fez o que pôde, mas tinha pouca margem de manobra, premido que estava pela mídia, pela necessidade de trazer o hexa e, principalmente, pela neymar-dependência.

Fracassamos.

Agora é aguardar mais quatro anos. No Catar, em 2022, Neymar, terá 30 anos e, possivelmente, uma última chance de jogar uma copa em alto nível. Até lá, precisará crescer e se reinventar. Poderia, quem sabe, se inspirar em grandes atletas, como Nadal, Federer e Djokovic, que unem talento, foco, disciplina e respeito ao adversário...

Neymar é um craque, isso ninguém discute. Adorá-lo ou odiá-lo, no entanto, passa por uma questão mais profunda, relacionada aos valores de cada um.